O Clássico das Viradas
Se eles querem tanto assim a bola, podem ficar.
Foi um belo jogo, com muitas chances de gol, muitos gols e dois times se alternando no controle da partida. O clichê já veio de dezenas de bocas, "O Vasco perdeu para si mesmo", e não virá da minha. Existe um exagero nisso. De fato, o time teve duas chances claríssimas de matar a partida (quando tinha 2x0 no placar e quando Makelele foi expulso). De fato, o time relaxou. Mas, ainda assim, não acredito que possamos ignorar os méritos do Palmeiras. Os paulistas não jogaram bem taticamente ou tecnicamente, em ambos os aspectos o Vasco se demonstrou bastante superior. No entanto, o que eles correram e brigaram durante os últimos 70 minutos de jogo, especialmente no segundo tempo, não é humano. A raça e superação do Palmeiras foram dignas de admiração.
Primeiro, se existe alguém que não foi responsável por essa virada, esse alguém é Caio Jr. Desde o início do ano eu escuto: "tem que dar tempo para ele acertar o Palmeiras, é um visionário, blablabla". Se algum palmeirense ainda tem paciência para esperar, parabéns, porque após sete meses o time continua completamente desorganizado e cometendo erros primários. No jogo de ontem, depois de ter escalado o time errado, Caio Jr. até conseguiu consertar a equipe, colocando o carniceiro Makelele para equilibrar o meio campo, mas ainda assim deu muita sorte com o desempenho de sua equipe (e com o gol de Luiz Henrique, que ele também lançou). Apesar do notável preparo físico e esforço, dificilmente o Palmeiras briga por algo além de uma vaga na Sulamericana. E uma das razões é exatamente o treinador, provavelmente o mais superestimado do país. A equipe é evidentemente mal treinada.
Agora falemos daquele que foi o nome do jogo: Makelele. O volante não é grande coisa (está longe do homônimo francês), se limita a correr muito e agredir os adversários, mas foi essencial para a virada. Marcou bem os avanços da equipe cruzmaltina pela direita e colou no armador Conca, anulando o argentino até a segunda etapa, quando foi expulso. Sua expulsão, aliás, foi excelente para os paulistas. Por um lado, deu novo gás ao Palmeiras. Por outro, fez com que o Vasco acreditasse ter a partida em mãos e se abrisse um pouco mais. Ou seja, Makelele acertou até errando.
O Palmeiras teve outro grande destaque, o ala direito Wendel, que enfrentou um Rubens Jr. em grande atuação (coisa rara) e ainda assim foi sempre perigoso. Foi pelo lado direito que nasceram praticamente todas as jogadas da equipe, incluindo os dois primeiros gols.
O resto do time foi muita luta e disposição. Gustavo passou a partida inteira abraçado com Martin García. Pierre empurrou, puxou e provocou Leandro Amaral até o fim. Valdívia pode até negar, mas parecia mamado. Tentou arrumar confusão com todo mundo e, quando foi mexer com o verdadeiro "El Mago" Conquito, saiu com um olho roxo. [aprendam: não se mexe com o Conca]. Com a bola nos pés, apesar do primeiro gol e das firulas, que ajudaram a desestabilizar o Vasco, o chileno não armou nenhuma grande jogada. E o ídolo Edmundo mais uma vez me deixou orgulhoso. Vascaíno como ele está para nascer outro.
Quanto ao Vasco, bom, foram três times diferentes:
1- De 0x0 até 2x0
Uma equipe semelhante àquela que jogou no sábado, trocando passes com inteligência e objetividade. Eu diria até que jogou melhor, uma vez que Conca apareceu mais, entortou os palmeirenses e não errou um único passe. Perdigão mais uma vez foi o motor (um motor não muito potente, é verdade) da equipe e ainda ganhou todas de Valdívia. Rubens Jr. foi o destaque, marcando um gol de oportunismo, anulando Wendel e subindo sempre com perigo.
Leandro Amaral também deixou o seu.
2- De 2x0 até a expulsão de Makelele, passando por 2x1
Achando que tinha o jogo em mãos, essa nova equipe do Vasco entregou a bola para o Palmeiras e disse "joga". E eles jogaram. No início erraram muitos passes, mas depois olharam para a zaga vascaína e pensaram "Ahhh, o Dudar tá lesionado". E partiram para cima.
Não vou nem dizer que a defesa do Vasco tenha jogado mal. Reagiram bem à pressão, e o gol se originou numa falta não marcada sobre o Perdigão. Mas, de qualquer forma, é bom lembrar que ali não tem nenhum Cannavaro. Jogar a responsabilidade em cima de Amaral, Jorge Luiz, Júlio Santos e Vilson tem um nome, e se chama "sacanagem". Os quatro fizeram o que podiam para conter a pressão e, com a ajuda de Perdigão e Rubens Jr., conseguiram até re-equilibrar a partida no segundo tempo. Mas aí parte do estrago já estava feito.
Quando a segunda etapa começou, o Palmeiras já não conseguia penetrar na área do Vasco. Só que, se eles não conseguiam atacar, o Vasco muito menos. E se fosse para alguém marcar, certamente não seria da turma do Conca.
[Outro destaque dessa etapa foi Martin García, que em certo momento chegou a ser marcado por 4 jogadores palmeirenses. O atacante trombador segurou a bola o quanto pôde e recebeu diversas faltas, a ponto de nem mais reclamar quando era puxado.]
E assim o jogo seguiu, tenso até o momento em que Makelele tirou Wagner Diniz de cena. Sua entrada foi criminosa, mas o que irrita não é isso. O que irrita é saber que essa entrada ajudou os infratores, porque foi nesse momento que todas as circunstâncias passaram a conspirar a favor do Palmeiras.
3- Da expulsão até 2x3
Logo após a expulsão de Makelele, Celso Roth optou pela troca de Perdigão por Junior. Segundo ele, havia o risco de o jogador também receber o cartão vermelho, já que tinha um amarelo e não parava de reclamar. O treinador acabou sendo bastante criticado por essa substituição, mas eu achei compreensível (embora minha opinião seja de que o Guilherme deveria ter entrado e o Rubens Jr. deslocado para a zaga, formando uma linha de quatro). Perdigão já não conseguia correr, de qualquer forma. E o Celso Roth não poderia imaginar que seu reserva entraria tão mal. Ninguém poderia... pois foi um desastre.
[Junior entrou para a batalha que acontecia no Palestra Itália como se estivesse entrando numa pelada de final de semana. Não só perdia a bola com facilidade, como não conseguiu cumprir o mesmo papel de Perdigão na marcação. No gol de empate, perdeu na corrida para Wendel, que já estava correndo há 80 minutos! Simplesmente lamentável. Logo depois, ainda teve a chance de se redimir, sozinho e de frente para Diego Cavalieri. Não conseguiu.]
Nesses 25 minutos finais, eu diria que o Vasco voltou a jogar mais que o Palmeiras, apesar de os 2 gols do adversário contradizerem essa afirmação. Conca, menos marcado, reapareceu e quase marcou em duas oportunidades. Criou outras duas para Júlio Santos e Junior, que o goleiro palmeirense defendeu. No ataque, Leandro Amaral não esteve muito bem, e isso acabou pesando um pouco, pois o Vasco poderia ter liqüidado a partida no intervalo de 16 minutos que teve até o empate do Palmeiras. Mas o Leandro foi muito bem marcado também, não sae pode esquecer.
O Palmeiras estava embalado: pela torcida, pela expulsão, por Junior, pelas bolas que não entravam, pelo relaxamento do Vasco (que se abriu para atacar de novo) e pelas falhas individuais que começaram a vir em decorrência do cansaço vascaíno. Os gols acabaram acontecendo. E foram justos, como teriam sido aqueles que os jogadores do Vasco perderam.
Enfim, foi um jogo em que os dois times jogaram bem, demonstraram suas qualidades, utilizaram seu estilo e pagaram para ver no que dava. E deu Palmeiras. O que se pode fazer?
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Leandro Amaral já está tratando da sua renovação. E o melhor de tudo: ele mesmo foi procurar a diretoria para dizer que gostaria de ficar até pelo menos o fim de 2008.
Não tem igual.
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O atacante do Goiás e revelação do Brasileiro Wellinton foi vendido para a Rússia. O lateral são-paulino Ilsinho vai para a Ucrânia. É a temida janela mais uma vez.
31 de agosto, chega logo.
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- Se não me engano, essa quarta-feira foi a primeira vez que Diego Souza, Tcheco e Carlos Eduardo conseguiram jogar juntos nesse Campeonato Brasileiro. Se essa equipe for mantida, teremos um novo candidato ao título. Na minha opinião, concorrente mais forte para o Botafogo do que o São Paulo. Mas vou esperar até a décima-nona rodada.
- O irregular Cruzeiro quase conseguiu vencer na Arena da Baixada. Merecia, mas acabou sofrendo com o gol sem querer de Pedro Oldoni e não teve tempo de virar. E se afasta cada vez mais da Libertadores.
- O Goiás agora vai a São Januário, por um lado sem Wellinton, por outro com a moral de ter detido o Santos. O lateral Diego reencontra o clube onde se criou e de onde saiu numa das maiores campanhas contra um jogador que eu já vi. São duas equipes que vem se acertando. Tem tudo para ser um bom jogo. Espero que seja.
- Internacional = Alexandre Pato. Me lembra o Grêmio de 2000, quando era carregado pelo Ronaldinho. Não acredito que vá muito longe se continuar assim.
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Nenhuma vitória foi mais bonita nesse PAN do que a vitória do futebol feminino. As outras modalidades que me desculpem, mas título no futebol tem outro gosto, e não dava para o Brasil sair da competição sem nenhuma medalha no esporte.
A medalha veio, e não veio de qualquer jeito: foi um ouro indiscutível, com 100% de aproveitamento, espetáculos consecutivos e nenhum gol sofrido. Não importa se a equipe dos EUA era reserva, o Brasil não tem nada a ver com isso. Foi um chocolate histórico, daqueles que elas costumavam aplicar na gente e dificilmente aplicarão outra vez.
Para um país sem liga e sem estrutura, formar uma Seleção dessa qualidade é quase um milagre. Em tempos de jogadores mercenários e cansadinhos, a gente tem que tirar o chapéu para essas mulheres.
E Pequim vem aí. Pequim vem aí.
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Nesse PAN, deu quase tudo certo. Só faltou educar a população.
1 comment:
Duro mesmo foi ouvir a torcida do Palmeiras cantando "O palmeiras é o time da virada, o palmeiras é o time do amor".
Só faltava essa. Os caras levaram a virada mais humilhante de todos os tempos e tem coragem de cantar isso.
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