Friday, 28 September 2007

O sentimento não pode parar


"Não estamos alegres, é certo, mas também por que

razão haveríamos de ficar tristes?"

Há algum tempo eu poderia dizer até mesmo a marca de gelatina que o Morais consome no departamento médico. Na última quarta, fiquei surpreso quando notei o Enílton de volta. Pois é, dá para ver o quanto eu ando meio alienado. Não é para menos. São Paulo pentacampeão, um mês sem ver o Vasco vencer no Brasileiro, Fluminense melhor do Rio, Souza canetando os zagueiros e STJD ocupando mais páginas no jornal do que os jogos em si. Some a tudo isso minha crônica "melancolia de primavera" (eu já comentei como eu odeio essa estação?) e não é de se estranhar que eu já estivesse mesmo de saco cheio de futebol esse ano.

Quer dizer, até essa semana. Porque tudo isso realmente cai por terra quando você tem dois dias como foram a quarta e a quinta que se passaram. Bastaram três jogos para que eu recuperasse esse sentimento que costumava me levar a escrever aqui. Três jogos que não foram semelhantes em nenhum aspecto, exceto talvez pela surpresa que me causaram, mas que foram todos especiais de algum modo. O Vasco defendendo sua dignidade em São Januário, a Seleção feminina dando uma aula de técnica na China e o Botafogo proporcionando um dos maiores vexames da sua história na melhor partida do ano. Finalmente coisas das quais vale a pena falar!

Portanto deixo aqui algumas palavras sobre essas três partidas e assim por diante.


Vasco 3x0 Lanús

Você já tinha ouvido falar no Lanús? Pois é, nem eu. Até duas semanas atrás, eu só sabia que eles tinham vencido o Estudiantes e que isso era estranho. Se hoje eu fosse defini-los, diria: "Bom, é um time horroroso, alguma coisa como o Figueirense deles e cujo único trunfo é saber jogar na lama".

Pois bem. O Vasco visitou o charco onde eles costumam mandar seus jogos na semana passada. Conquito saiu de lá com o pé aberto, Dudar ficou meio doido da cabeça, Andrade Estrelinha brigou com Celso Roth e nem mesmo Leandro Amaral escapou do feitiço, perdendo uns 500 gols contra o Cruzeiro no domingo. 2x0 para os argentinos e tudo parecia perdido.

Até chegar São Januário... Até chegar a vez de o próprio Vasco escrever sua versão para essa disputa. Foi então que entraram em cena a segurança de Sílvio Luiz, a inteligência de Perdigão, a força de Amaral, a disposição de Marcelinho e Enílton, a velocidade de Wagner Diniz e a perfeição de Leandro Amaral, ídolo como sempre. Sua participação, aliás, foi digna dos bons tempos de Edmundo, quando o Animal fazia e desfazia as partidas toda vez que tocava na bola. Quando o Leandro correu para o alambrado foi emocionante, foi como se ele nunca tivesse feito isso antes. Foi um... recomeço.

Grande jogo? Não, de forma alguma. Os argentinos passaram 90 minutos escondidos e o Vasco brigou mais contra a bola do que contra os adversários. Mas como criticar uma equipe que precisa de 3 gols, joga desfalcada e faz esses 3 gols? Foi um jogo de superação, uma partida em que aqueles 11 jogadores honraram a tradição de 109 anos do clube e que lutaram até o último minuto, com a torcida apoiando de forma irrestrita. Foi o jogo que restaurou uma confiança que vinha abalada recentemente e que trouxe de volta (e quando digo "de volta", quero dizer "com paixão") o grito de "O Vasco é o time da virada, o Vasco é o time do amor", um grito que andava sem fazer sentido por um longo tempo.

Não foi um grande jogo, é fato, mas foi um VASCO enorme. Como deveria ser sempre.

Botafogo 2x4 River Plate

Incrível. O Botafogo não é um time pipoqueiro, o Botafogo é o próprio complexo industrial do milho Yoki!

Ontem a coisa realmente passou dos limites. Não dá para culpar a arbitragem, porque o juiz até ajudou o Botafogo. A tradição argentina não é desculpa, porque esse time do River é horroroso (no campeonato argentino, até atrás do Lanús eles estão). Mas, sobretudo, não adianta dizer que "tem coisas que só acontecem com o Botafogo", porque ultimamente essa frase só tem servido para justificar coisas que são injustificáveis. Coisas como um atacante que não sabe chutar, um goleiro que franga até em pênalti, laterais que não marcam, uma defesa que não passa dois jogos sem tomar gols e assim por diante.

Quando o jogo começou, tudo apontava para uma classificação tranqüila. Em 5 minutos o River já tinha se complicado tanto que Lussenhoff foi eleito por mim o pior zagueiro que já tive a oportunidade de assistir jogando. Com justiça, já que ao longo da partida ele não decepcionou: escorregou, trombou com companheiros, jogou a bola nos pés do adversário, foi expulso... enfim, o pacote completo. Quando Lúcio Flávio marcou o primeiro e ergueu as mãos para o céu, era só uma questão de administrar. E isso o Botafogo fez muito bem durante toda a primeira etapa, mesmo com o empate e mesmo com a expulsão do Zé Roberto. Não era verdade que o Botafogo perderia para o River. E não era verdade simplesmente porque isso era impossível.

No intervalo, minha primeira reação foi desligar a TV e procurar coisa melhor para fazer. Mas como o jogo estava bom e o Max estava no gol, acabei voltando para assistir o segundo tempo. Lussenhoff foi expulso, Dodô marcou um golaço e acabou levando um pontapé de Ahumada, que foi se juntar ao companheiro no vestiário. Perceba que só nessa última frase o jogo estava liqüidado. A torcida se despedia e, quem continuava, cantava contra o treinador. Era engraçado ver os argentinos correndo feito loucos, então acabei ficando para os 25 minutos finais. E foi aí que começou o verdadeiro espetáculo.

Porque, a partir daí, a raça que o River demonstrou deu inveja. Belluschi acreditou em todas. Ortega recompensou dois gols perdidos no primeiro tempo com duas assistências perfeitas. Carrizo se multiplicou atrás da linha do meio campo. Falcão mostrou uma frieza admirável. Ríos fez um gol belíssimo. E o Botafogo...

Bom, o Botafogo simplesmente apagou. Jorge Henrique perdeu três gols absurdos. Dodô se preocupou em fazer gol bonito. Max, que vinha bem, levou mais um frango constrangedor. Renato Silva e Alex estavam com preguiça demais para correr, Juninho com preguiça demais para pular. Joílson acreditou no que os jornais argentinos falaram dele e se perdeu no mundo da fantasia onde ele é o Ronaldinho Gaúcho.

E o que parecia impossível acabou se tornando fácil. Quando o River virou a partida, todo mundo já sabia que o quarto gol era uma questão de tempo. E ele acabou mesmo acontecendo, encerrando talvez o capítulo mais bizarro da história do Botafogo. O capítulo de uma equipe que se mostrou capaz de resgatar o amor da torcida botafoguense pelo clube e que jogou essa mesma torcida numa situação emocional pior do que a anterior. Uma equipe com o gosto amargo da frustração.

Brasil 4x0 EUA

Eu me senti assistindo a um daqueles vídeos antigos com partidas dos anos 60, quando todos os grandes jogaram. O espaço para a criatividade que falta ao futebol masculino moderno (talvez irreversivelmente) sobra ao futebol feminino. Estes dois minutos dizem mais do que eu jamais poderia:


1 comment:

Maria Luiza said...

Vou deixar meus comentários sobre esse jogos.

Vasco x Lanús:

Esse time do Lanús é ruim, mas assim, MUITO ruim!
E o Vasco mostrou raça dentro de casa e conseguiu se classificar. Eu sabia que ia acabar se classificando.

Já falei que acho o Leandro Amaral um puta jogador. Mas concordar com a inteligência de Perdigão, não dá!
Aquela cabeleira e aquela barriguinha não me deixam acreditar que esse cara joga futebol profissionalemente. E nessa partida ele errou aquilo que sabia fazer razoavelmente bem: dar passes na medida.

Botafogo x River:

Cara, juro que fiquei com muita pena dos botafoguenses. Garrincha deve tá se revirando no túmulo.

2007, que era pra ser O ano do Botafogo, deve ser esquecido mais do que quando caíram pra Segundona.

Brasil x EUA:

Quero a Martha no Flamengo.
Só isso.

 
eXTReMe Tracker