Friday, 6 March 2009

Libertadores 2009

Vendo o post do blog do Décio Lopes, comecei a pensar a respeito do desempenho dos clubes brasileiros nesse início de Libertadores. Claro que ainda é muito cedo pra ser qualquer coisa próxima de concreto dando pitacos nessa altura do campeonato. Muitos clubes ainda estão se acertando, não há nada confirmado em termos de classificação (ou não) para a próxima fase - e, é claro, as barangas das outras partes da América Latina ainda estão muito ativas por aí.


Resolvi responder à pergunta do Décio, sobre quais seriam os destaques e decepções da Libertadores, entre os times brasileiros, até aqui. E todas as duas perguntas me pareceram bem simples de serem respondidas, apesar de, como eu disse, ser apenas o começo da competição.


O destaque, é claro, é o Sport. Caiu no tido grupo da morte da Libertadores e tem reinado soberano. Primeira fase e apenas duas partidas, mas alguém duvida que o Sport vai se classificar? (Tudo pode acontecer, mas surpresa será se ele não for pra próxima fase. Não estou surpresa com esse bom início do Sport. Já era de se imaginar que o time de Recife viesse com tudo pra competição. Apesar do menor investimento em relação aos outros co-irmãos tupiniquins, o Sport já tinha demonstrado a sua capacidade de superação e, principalmente, a sua aplicação tática e determinação, na Copa do Brasil do ano passado. Foi uma senhora conquista, passando por cima dos super-favoritos Internacional e Palmeiras com autoridade, e do queridinho Corinthians. E é bom ver o Sport se dando bem no torneio de maior importância nas Américas, devolve um pouco dos holofotes ao futebol nordestino (mesmo que seja passageiro) e ajuda a aumentar os interesses que possam vir a render bons frutos para o clube. A torcida, pelo menos, nunca precisou disso para dar seu apoio incondicional ao Leão da Ilha, mas está mais orgulhosa do nunca, e com toda razão.


A decepção é, também claro, o favoritíssimo Palmeiras do seu Luxemburgo. Um bom time, com um bom técnico (um dos melhores do país, reconhecidamente), fazendo um bom campeonato paulista e com uma campanha pífia na Libertadores, depois de impôr uma sonora eliminação ao Potosí na fase de classificação. Ninguém imaginava que o Palmeiras teria um começo tão ruim, mesmo os mais pessimistas, que colocavam a inexperiência de grande parte das contratações do time para a temporada como um fator negativo. E é, de fato. Mas não deveria ser, não a esse ponto. Não com Luxemburgo como técnico. Luxa tem capacidade suficiente de corrigir, ainda que de forma improvisada, as falhas defensivas que o time tem demonstrado desde o começo do paulistão. Não é para isso que (hoje) servem os campeonatos estaduais? Como laboratório para as grandes competições do restante da temporada? Se não vai na técnica, tem que ir na tática; se a tática não é suficiente para resolver, a vontade tem que compensar, ao menos em parte. Mas não é isso que se vê em campo. Não acho que o problema seja falta de vontade, mas de fato há uma desatenção muito grande, digo até muito grotesca, para um time de Luxemburgo, em uma Libertadores. Talvez até se esperasse um começo vacilante e sem muito brilhantismo, mas tão devastador assim... O Palmeiras que se cuide.


Décio Lopes também perguntou sobre destaques e barangas em nível individual. E eu respondi, depois de pensar um pouco, Ciro e Kléber, respectivamente.


Ciro é uma jovem promessa. Bom jogador, de personalidade, e que vem aparecendo pro Brasil desde o ano passado. Agora está enfrentando seu primeiro grande teste, e não tem tremido nas bases. Infelizmente, mais um que não dura muito no Brasil.


O Kléber... O Kléber é um caso complicado. Não o escolhi como destaque negativo por futebol, porque isso ele tem, e vem jogando muito, sendo decisivo pro Cruzeiro (que aliás também vem fazendo boa campanha; é, junto com o Sport, os melhores brasileiros na competição até aqui). O problema vem depois. Kléber é ótimo jogador, mas para se firmar como "craque" no futebol brasileiro é imprescindível que ele amadureça e aprenda a ter mais responsabilidade. Não dá pra achar que fazendo gol ele está livre de cobranças, porque suas expulsões podem custar muito caro ao seu time. Além da multa, Kléber coloca a situação do Cruzeiro nas partidas em risco, e representa um prejuízo sem tamanho para a partida seguinte, porque de fato vem apresentando ótimo futebol. E quando chegarem as fases decisivas? E se ele for expulso em uma semifinal? Final, até? O problema (sério) de Kléber pode ser corrigido (e começa por ele não achar que tem direito de ficar chateado por ser multado; não tem), mas precisa ser corrigido logo. A Libertadores está aí. Se uma de suas faltas de juízo vieram junto a uma derrota ou, pior, a uma eliminação, ele não terá mais o apoio da torcida, o respeito dos companheiros e o apreço do técnico. Sua promissora temporada terá sido perdida, e Kléber pode acabar perdendo uma ótima oportunidade de alçar vôos mais altos na carreira. Está tendo uma ótima oportunidade, para ele e para o Cruzeiro. Não pode deixar escapar por pura e simples infantilidade.




Em uma nota a mais, gostaria de dizer que São Paulo e Grêmio, até aqui, não têm chamado muita atenção. O Grêmio até merecia ter ganho a primeira partida, mas não saiu do empate. O São Paulo entrou na sua chuteira salto 7.5cm e tomou um susto, que serviu para acordar o time para o segundo jogo. Jogo este que eu assisti, e ainda não me impressionei com o tricolor paulista. Clube mais bem estruturado do Brasil, que, diz, não tem nenhuma dívida (ahem), muita grana em caixa, Muricy Ramalho no banco, e o futebol burocrático de sempre. O São Paulo decepciona por ter tudo para ser muito mais do que é (no campo), e no entanto parece que escolhe não ser. Tem dado certo com uma mãozinha do destino no campeonato brasileiro, mas os próprios são paulinos admitem que o que eles querem de verdade é a América. E na América, não basta ser correto, não basta ser regular; na América, no mata-mata, tem que ter o algo a mais. É o que vem faltando ao SP nos últimos anos - o brilho. É o que explica a inesperada eliminação para o desarrumado, porém incrivelmente determinado, Fluminense de Renato Gaúcho, no ano passado. O São Paulo conta com um elenco onde nenhum jogador é ruim. Ou não totalmente. Há os duvidosos (Joilson? Wagner Diniz?), mas ruim ruim, nenhum. E ainda assim, não rende tudo o que pode. Acho que por isso não me chama atenção. Os jogos do São Paulo têm sido sempre assim, um sonoro 'Meh': time arrumado, bem escalado, até inteligente e de boa qualidade, com alguns jogadores muito talentosos, mas que nunca chega a ser brilhante, nunca chega a encantar, nunca chega a fazer as melhores partidas ou a apresentar o melhor futebol que se espera do campeoão brasileiro.

Tuesday, 3 March 2009

Realidade x Fantasia

Ou: por que o Botafogo foi campeão da Taça Guanabara? Ou: os pés no chão x à espera de um milagre.




Não existe uma fórmula definida que explique o título do Botafogo. Existe, sim, uma combinação de fatores, intra e extra-campo, que ajudam a entender como um clube que acabou de sair de uma forte crise política, ainda em meio a complicações financeiras, e totalmente desacreditado (pela mídia e pela própria torcida) chegou ao triunfo em pouco mais de um mês.



Muitos podem argumentar que a Taça Guanabara não é um título de fato, apenas um turno do campeonato, e um turno curto. Mas justamente o fato de ser o primeiro turno do primeiro campeonato do ano é que faz essa conquista um tanto quanto curiosa, e merecedora de um pouco de reflexão. Em especial, por parte dos clubes rivais (ou ‘co-irmãos’, como é a moda agora).



Flamengo e Fluminense começaram o ano como declarados favoritos, até mesmo o Vasco teve mais crédito do que o Botafogo de Ney Franco (em parte por estar iniciando uma era da qual muito se espera). Se o Vasco teve os pontos perdidos no tapetão, fora de campo vem enfrentando sérios problemas políticos, e aquela velha falta de dinheiro que permeia todos os clubes cariocas, em eterna crise, e que já virou rotina (infelizmente). O Flamengo começa a se preparar para as eleições do final do ano finalmente mergulhando em uma crise anunciada há anos, e que os dirigentes escolheram empurrar com a barriga até não haver mais jeito de negar. O Fluminense parece uma criança mimada. Ele quer, quer, quer. Só quer, mas não sabe o que fazer.



A nova diretoria do Botafogo, que também assumiu sob grande desconfiança, vem se mostrando eficiente, e, acima de tudo, realista. E assumir a realidade é o primeiro passo para sanar os problemas de qualquer clube no Brasil. Se o orçamento é curto, se as contratações não podem ser apoteóticas, se a situação não permite luxos, então a primeira providência deve ser admitir e trabalhar em cima disso. Foi o que o Botafogo fez. Um elenco de jogadores jovens e desconhecidos, com alguns poucos valores de nomes mais retumbantes. Houve uma preparação sem soberba e sem exageros, com muito comprometimento e cumplicidade. A diretoria fechou com o técnico que fechou com o elenco, e dessa forma todos estavam focados no trabalho. Se daria resultado em pouco tempo ou não era um mistério, mas antes de tudo houve esforço. Houve doação. E, principalmente, houve vontade.



O Botafogo planejou e executou dentro da sua capacidade, se preparou para a competição sem esperar que milagres ou mágicas acontecessem. O resultado está aí. Existe uma diferença entre montar um time e escalar um time. Enquanto o alvinegro apostou no conjunto da obra e fez dela a sua força, Flamengo e Fluminense colocaram seus jogadores em campo e esperaram que eles resolvessem suas vidas sozinhos. O problema vai muito além do técnico e sua comissão; remonta às diretorias e sua falta de critério na hora de contratar, à falta de planejamento e a ausência de pessoas mais qualificadas tomando conta dos departamentos de futebol.



É claro que passada a Taça Guanabara, os outros times terão mais tempo para se acertar, e é provável que consigam, dentro do possível. Com tempo tudo se acerta; se as coisas são feitas de maneira correta, se acertam mais rapidamente. O grupo do Botafogo não está pronto para competições nacionais, tem muitas falhas que precisam ser corrigidas, carece de um elenco mais forte, jogadores melhores para algumas posições e melhores reservas para outras. Mas de último colocado na crítica geral de início de ano, Ney Franco colocou o seu time no topo da competição, taça na mão sem a menor sombra de dúvida quanto ao seu merecimento. Se o Botafogo de Futebol e Regatas ainda está longe de poder ser qualquer coisa próxima a um clube modelo, serve pelo menos de inspiração para outros clubes no Rio nesse começo de temporada turbulenta para o futebol carioca, depois de dois anos respirando mais aliviado.



A conquista de um turno diz pouco em termos de continuidade da temporada. Mas a forma como foi conquistada é que deve dizer muito. O Flamengo, com o potencial de arrecadação que tem; o Fluminense, com os rios de dinheiro que seu patrocinador está sempre disposto a investir; o Vasco, com a mobilização que a segunda divisão promete causar (vide o Corinthians) – todos podem fazer melhor, todos têm a faca e o queijo na mão para darem o primeiro passo em busca de maiores objetivos, não só nesta temporada. E é só assim que o futebol carioca, como um todo, vai poder parar de viver de momentos e acertos inesperados para começar a figurar no topo da cadeia futebolística nacional, onde sempre esteve e de onde nunca deveria ter saído. É bom para os clubes do Rio, é bom para os torcedores, é bom para o estado do Rio e é bom para o futebol nacional, que só tem a ganhar.




No mais, parabéns ao Botafogo.

 
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